domingo, agosto 14, 2005

"É caro ser pobre"

A gente descobre que definitivamente não é normal quando acorda às 4h (porque foi dormir às 22h - ?!?!) e passa uma hora assistindo a um vídeo sobre o lançamento de um livro sobre transferência de dinheiro do exterior pelos imigrantes. Taí um termo que é bem mais bonitinho em inglês: remittances. Comecei a gostar desse assunto assim de repente. Depois de uma aula sobre migração. "Remittances: a tool for reducing poverty" é um dos best sellers do Banco Mundial atualmente.
Na palestra, um dos editores, Samuel Munzele Maimbo, conta en passant o interessantíssimo caso da Somália, onde, sob profundo caos político, o dinheiro enviado pelos que deixaram o país fez com que ele ficasse em melhores condições do que quando era administrado por um governo "decente". Deixando claro aqui que esse foi um livro publicado pelo World Bank e que essa história pode - e deve - ter um outro lado.
A parte mais emocionante do vídeo (meu Deus, olha o que eu estou falando!!) é quando o próprio Munzele Maimbo conta que teve seus estudos pagos com o dinheiro que seu irmão mandava do Reino Unido, onde trabalhava no campo durante os intervalos da universidade. Anos mais tarde, o futuro economista do Banco Mundial fez o mesmo, enviando dinheiro de Manchester para o seu irmão mais novo, que pouco mais tarde financiou os estudos da caçula com o dinheiro que ganhava trabalhando numa boate em Londres. Sério, fiquei emocionada.
No fim do evento, Donald F. Terry, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), lembra a todos que só se dá importância pra remittances agora porque é um setor que movimenta "bilhões e bilhões e bilhões de dólares". Ninguém é bonzinho não. Terry lembra que sabe-se muito sobre foreign direct investment etc etc mas pouquíssimo sobre o dinheiro que sai de um país e vai para outro enviado de civil para civil, principalmente extra-oficialmente. "É caro ser pobre", diz ele, explicando que custa muito para quem não tem "um pedaço de plástico" mandar dinheiro de um país para outro. Terry destaca a experiência da Guatemala, cujo sistema bancário vem aumentando absurdamente por causa das transferências de dinheiro e se adaptando a ele.

Achei isso tudo numa supresa agradável no meio dessa madrugada: o primeiro blog desenvolvido pelo Banco Mundial, lançado recentemente. Private Sector Development Blog, "a market approach to development thinking", conta muito bem um dos lados dessa história toda de desenvolvimento.

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Hoje os jornais falam da nova versão sobre a morte do Jean Charles. Citando o "Daily Mail", o Globo conta que o brasileiro morto em Stockwell "teria usado um bilhete eletrônico para passar pela roleta e, pelo menos inicialmente, teria caminhado até a plataforma. Além disso, ele não estaria usando uma jaqueta de inverno e os policiais não teriam se identificado de maneira apropriada ao abordá-lo".
Essa semana um amigo inglês veio me contar que, voltando do trabalho, num double-decker (os ônibus de dois andares), viu um cara com uma camisa que dizia: "Por favor não atire. Não sou brasileiro".

Sobre o drama do nosso lado do Atlântico, o Xéxeo fala que "deu pra chorar assistindo o Jornal Nacional". Pois eu consegui acessar o discurso do Lula pelo Globo Midia Center e assisti fazendo a mesma coisa... Há um tempão não ouvia a voz do Lula. Ele está bem mais murchinho... Não é pra menos...

Da Jamaica, pelo menos, boas notícias... :-)

E viva o ombusman da Folha! Sobre o caso Escola Base: "Esse é um caso tão emblemático que me pergunto por que as empresas condenadas ainda insistem nos recursos". Ele inclui aí o próprio jornal.
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